24/10/2011

Ainda sobre os novos imigrantes

Essa é a segunda parte da reportagem sobre o perfil dos novos imigrantes que escolheram o brasil como destino.


‘‘Em busca de renda, 200 milhões de pessoas vivem fora de seu país de origem’’ diz PAULO SÉRGIO DE ALMEIDA, coordenador-geral de Imigração do Ministério do Trabalho.


(...) "Cabo Verde é o país de língua portuguesa que mais manda universitários para cá. São quase mil. Vieram graças a um convênio mantido entre o Brasil e outras nações em desenvolvimento, chamado PEC-G. Nesse programa, instituições de ensino superior públicas e privadas oferecem vagas gratuitas a estrangeiros. Os alunos têm de arcar com custos como moradia e alimentação. O primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, estudou na Fundação Getúlio Vargas.


Imagem: www.suapesquisa.com




(...) "Por causa da língua, a relação com o Brasil é mais forte. As antenas captam a programação das redes de TV brasileiras, como Globo e Record. (...) O comércio também é intenso. Toda semana, dezenas de sacoleiras viajam do arquipélago até Fortaleza, no Ceará, onde se abastecem com as últimas novidades das lojas de roupas, bijuterias e eletrodomésticos para revender nas ilhas africanas. O vôo dura apenas três horas e meia. Com tudo isso, o Brasil se tornou um destino preferencial dos cabo-verdianos.



(...) "A advogada Ruth Camacho, do Centro Pastoral do Migrante, entidade ligada à Igreja Católica, afirma que o sonho de quase todo estrangeiro é retornar ao país de origem. Segundo ela, o perfil do imigrante sul-americano mudou nos últimos dez anos. Além de a proporção de mulheres ter crescido, trabalhadores de zonas rurais passaram a entrar no Brasil com maior freqüência. A proximidade geográfica dos países facilita o trânsito humano. O aperto das autoridades de imigração dos Estados Unidos e de países da Europa também tem obrigado mais gente a definir o Brasil como destino. “Cinco anos atrás, havia cerca de 100 mil imigrantes sul-americanos apenas na cidade de São Paulo. Agora há entre 150 mil e 200 mil”, diz Ruth. Ela estima que quatro de cada dez sejam ilegais. O PIB per capita boliviano (US$ 2.819) é um terço do brasileiro (US$ 8.402).


Imagem: www.lago.com.br

"Embora o acordo de regularização migratória tenha beneficiado milhares de bolivianos, é provável que a maioria deles não faça a renovação da documentação, obrigatória. “O processo é caro e burocrático. Eles têm de juntar uma série de documentos”, diz o padre Mário Geremia, do Centro Pastoral do Migrante. “Até agora, apenas cerca de 30% fizeram a renovação.” Susana foi uma das que correram para manter regular sua permanência no país. “Ainda faltavam três meses para o prazo terminar, mas o processo é demorado e eu queria ficar com tudo certinho”, afirma. Segundo o Centro de Apoio ao Migrante, entidade ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, há no país pelo menos 600 mil imigrantes em situação irregular. “A estabilidade econômica e a política são os maiores atrativos para os estrangeiros”, diz Romeu Tuma Júnior, secretário nacional de Justiça.
Com o Brasil se firmando no papel de líder da América do Sul e se abrindo para o mundo como um país de grandes oportunidades, a tendência é que esse fluxo de estrangeiro aumente. Sejam eles estudantes como a cabo-verdiana Daisy, advogados como o norueguês Andersen ou subempregados como a boliviana Susana. O Brasil parece ter se transformado em uma nova terra prometida para todos eles.